sábado, agosto 18, 2007

A Família faz falta

(um artigo de Manuel Brás)

O governo socialista decidiu aumentar, em certos casos e condições, as prestações a apoios familiares, o que designaram como “medidas de incentivo à natalidade”.
São medidas positivas e inéditas nas últimas décadas, para vergonha do PSD e do CDS, embora talvez tardias e incipientes, em claro contraste com as convicções de uma mente socialista e devotada à “modernidade”. Mas, enfim, a emergência fala mais alto que a convicção.
É esta a questão de fundo: poderá a necessidade pura e dura suprir a falta de convicção e a inércia de uma mentalidade? Dito de outra forma: poderá a concessão de prestações familiares aumentadas, para segmentos mais carenciados, suprir uma mentalidade forjada ao longo de décadas em que a maternidade é vista como coisa pouco ou nada recomendável, que se deve evitar, na melhor das hipóteses como a última das melhores coisas que podem acontecer.
Resultará?
Pela experiência de outros países, em que as prestações são mais generosas, será de esperar um ligeiro aumento da natalidade, ficando ainda muito longe do mínimo necessário de 2,1 filhos/mulher para renovar gerações, o que capitalizará o facto de 2006 ter sido o ano com menor natalidade desde que essas coisas se contam. A grande vantagem das coisas estarem muito mal é que já não podem ficar muito pior. Ânimo!
Como reagirão os portugueses a estas medidas?
Vejamos o que pensam as portuguesas acerca dos motivos mais importantes para reduzir o número de filhos ou mesmo não os ter (INE, 1997):
• Ter crianças implica grandes custos, sobretudo quando crescem 76%
• Educar uma criança traz muitos problemas e complicações 63,5%
• Idade inadequada 53%
• Ter crianças implica maiores dificuldades para a mulher conseguir emprego 52,,5%

Os dois motivos menos apontados são:
• Ter crianças implica ter menos tempo para outras coisas importantes na vida 37%
• Por problemas de saúde 34%

Chama a atenção que, sendo a gravidez apresentada pela opinião publicada como uma verdadeira doença, o último dos motivos do “ranking” para ter menos, ou não ter, filhos seja “problemas de saúde”.
Como se vê, só residualmente os motivos económicos são um verdadeiro obstáculo, e menos ainda a curto prazo, para a aceitação da maternidade; os custos não serão só de dinheiro.
Custa, pois, a crer que a natalidade tenha um aumento significativo nos próximos anos, seja pela exiguidade das medidas ora anunciadas, seja pela mentalidade criada ao longo das últimas décadas, com a cumplicidade e a aprovação do Estado: a APF que o diga.
Haverá dinheiro que consiga mudar essa mentalidade?

sexta-feira, agosto 17, 2007

Bluff

O ministro das finanças respira de alívio, o ministro da saúde abana com a cabeça incrédulo, os defensores do sim no último referendo estão de má consciência e os defensores do não, onde eu me incluo, perguntam: só?

Como é sabido, fez agora 1 mês que começou a tal matança, desculpem, o tal aborto legalmente assistido blá blá blá. Mas nesse primeiro mês foram “apenas” 300 abortos efectuados nessas condições (bem, cada aborto é um amais, com apoios governamentais suficientes muitas grávidas não abortariam, mas não gosto de me repetir....). Apenas, porque os defensores do sim fizeram campanha com um número de 20 mil abortos clandestinos por ano em Portugal. Basta fazer as contas e verificar que alguma coisa não bate aqui certo!

Mas onde é que está a “falha”?? Das duas uma: Ou esse número avançado pelo sim não corresponde à verdade ou então, os abortos clandestinos continuam a acontecer! Penso que a verdade está no meio, não há assim tantos abortos como queriam fazer parecer, e os clandestinos continuam! Aliás, sempre disse que os abortos fora da nova lei nunca iriam acabar, já que muitas futuras mães não querem que se saiba do seu estado de graça.

Bem, vamos esperar pelos outros meses, porque já houvesse quem dissesse que esse primeiro mês servia quase como um teste, já que tudo nessa forma em acabar com a vida (minhas palavras) é novidade nos hospitais. Mas eu pergunto: Haverá algum caso em que alguém pedisse um aborto (dentro do prazo, claro) e que não se tivesse realizado? Penso que não, porque esse facto seria primeira página nos jornais!

Por isso, o meu veredicto é: Um bluff de todo o tamanho!

sábado, agosto 11, 2007

Resistir

(um artigo de Manuel Brás)

Tempos de resistência, são também aqueles por que passamos.
Resistência à política do governo no que toca ao “Tratado-Constituição” para a Europa e à aplicação da lei do aborto: em nome da nossa independência e da nossa sobrevivência.
Enquanto portugueses temos o grave dever de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para impedir o governo de ser bem sucedido no Tratado e na lei do aborto.
O Tratado não nos serve para nada a não ser tirar-nos a liberdade através de um aperto cada vez mais agressivo por parte do federalismo de Bruxelas, os polícias do pensamento, à custa de uma proliferação de leis e regulamentos para controlar tudo e todos, das formas mais absurdas. Quanto ao conteúdo do Tratado nem sequer vão, propositadamente, falar. Do referendo, o medo é tanto, que nem querem ouvir falar. Assim são estes democratas: assinam os Tratados que querem e o Povo nunca é tido nem achado. E depois vêm dizer que a democracia é o governo do Povo. Pois é…
A reter: o que está em jogo neste Tratado que Sócrates quer aprovar à revelia dos portugueses e demais povos europeus é, além do famoso sistema de dupla maioria, a instituição de um “Presidente da União”, de um Ministro dos Negócios Estrangeiros – mesmo que lhe chamem “Alto qualquer coisa” –, a redução de poderes dos parlamentos nacionais e o reforço dos poderes do parlamento europeu.
Mesmo que Sócrates consiga levar a dele avante, é sempre possível ignorar o Tratado e viver como se não existisse. Porque só existe no papel.
A aplicação da lei do aborto está a encontrar uma resistência à partida inesperada, sobretudo pela honra profissional e coragem de muitos médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde – honra lhes seja feita -, bem como de vários sectores da sociedade civil e da política.
Não há qualquer obrigação de cumprir leis iníquas. Bem pelo contrário, deve-se resistir.
Como muito bem diziam os partidários do “sim”, o que pretendiam era alterar a lei de maneira a que nenhuma mulher fosse condenada em tribunal, e não facilitar a prática do aborto, pois eles também eram contra o aborto. Foi isto que os portugueses aprovaram no referendo: a despenalização, não a prática do aborto. Portanto, impedir a prática do aborto é cumprir a vontade dos portugueses e dos próprios partidários do “sim”: desde que as mulheres não vão a tribunal…
Até porque “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”.