domingo, fevereiro 04, 2007

O cheque em branco

(por J. Miguel Correia Pires)

Apesar da abundância de notícias sobre o referendo à despenalização do aborto, continuamos sem saber se as mulheres terão aconselhamento antes da interrupção da gravidez e, no caso de o terem, como será feito esse aconselhamento.
Continuamos sem saber se as mulheres continuarão a ser condenadas à prisão se abortarem depois das 10 semanas, ou se não serão condenadas em nenhuma situação.
Continuamos sem saber como é que é possível garantir que os abortos não se farão indiscriminadamente até às 20 semanas.
Continuamos sem saber se as mulheres que quiserem abortar serão encaminhadas para os hospitais ou para as clínicas privadas.
Continuamos sem saber se a IVG será suportada pelo Estado em todos os casos ou só em alguns.
Continuamos sem saber ao certo quantos abortos se fazem em Portugal, e sem conhecer estatísticas das consequências que tiveram. Ouvimos dizer que o aborto é um problema, mas nao ouvimos o Estado falar de soluções para evitar que as mulheres recorram ao aborto.
E, mesmo assim, há pessoas dispostas a dizer 'Sim' à pergunta proposta pela Assembleia da República. Os senhores deputados não fizeram o trabalho antes e agora querem que os portugueses lhes passem um cheque em branco?
Isso não senhores deputados.