Abortem Este Sistema
Tendo testemunhado, via a blogosfera e pela comunicação social, a mais recente polémica desencadeada por Helena Pinto, deputada do Bloco de Esquerda, acerca do blogue “Pela Vida” do qual faço parte apesar de ter mantido uma posição de mero observador e colocando uns parcos textos do único deputado independente da Assembleia Regional dos Açores, Dr. Paulo Gusmão, que já tive o prazer de conhecer pessoalmente uma vez que os Açores não são assim tão grandes e viver em ilhas acaba mais por nos unir do que por nos separar decidi que devia fazer uma curta intervenção.
Todo este maniqueísmo trotskista tem-me impressionado, a deputada Helena Pinto podia pelo menos ter tido o cuidado de notar que vários blogues de camaradas seus mantêm também “links” para páginas daquelas pessoas que ela, portadora duma verdade suprema, caluniou como “nazis”, uma palavra mantida pela novílingua deste Admirável Mundo Novo para ostracizar pessoas portadoras de pensamentos estranhos ao vigente pela maioria do rebanho eleitoral em que vivemos, a mera menção da palavra dá lugar a reflexos pavlovianos por parte do cidadão comum.
Creio que seria intenção da deputada acusar, por associação, aqueles que não pensam como ela de serem portadores de um estigma que significa o mal supremo na sociedade moderna, simpatias e ligações por um regime histórico que foi derrotado e que não vai ressuscitar nem agora, nem daqui a um século nem nunca!
Por associação creio também que era intenção da mesma escavar as fileiras dum combate entre “esquerdas” e “direitas”, dicotomia que deveria ser dada como extinta no actual século (não sei se notaram que já nos encontramos no Século XXI), sobre a temática do aborto. Um esforço deste tipo é fútil, existem personalidades de direita que são a favor da despenalização e existem-nas de esquerda que são contra.
Tenho mantido o silêncio exactamente por circular em ambientes de esquerda e de me alinhar politicamente por esse campo político e a minha participação no “Pela Vida” é mais por descargo de consciência que por qualquer outra razão filosófica ou militante.
Como libertário que sou (uma palavra bonita e politicamente correcta para o termo anarquista, embora eu prefira mesmo a original: anarquista) era natural que eu defendesse a “liberdade de escolha” acima de tudo e, portanto, que fizesse parte do pelotão do “Sim”, mas isto não sucede, primeiro porque o direito à vida não se deve medir em dias e semanas mas, mais que isso, o que me incomoda em tudo isto é que caso ganhe o “Sim” o Estado divorcia-se do seu dever de providenciar meios para que as mulheres não decidam abortar, que é a minha principal preocupação uma vez que no pelotão do “Sim” se fala à boca cheia que a maior parte das mulheres se vêem obrigadas a abortar e que nenhuma mulher gostaria de abortar mas, enfim, às vezes é mesmo preciso… e já que é preciso, pelo menos que não sejam perseguidas por isso.
Não seria muito mais benéfico forçar o Estado a providenciar meios para que essas mulheres, normalmente mães jovens e solteiras, pudessem ter outras opções? Não há dinheiro para ter um filho, não faz mal, o aborto é legal… será mesmo necessário permitir apenas esta opção?
E não esqueçamos o problema das listas de espera que costumam entupir os hospitais, doentes que estão realmente doentes por vezes esperam um ano, ou mais, para serem operados… como é óbvio uma grávida que queira abortar não poderá esperar e terá que ser operada o quanto antes SEM TAMPOUCO SE ENCONTRAR DOENTE aumentando o período de espera de doentes reais.
Aqui a esquerda do sistema certamente apontará a necessidade do Estado recorrer a instituições privadas… o que trocando por miúdos significa exactamente isto: transformar o aborto num negócio (algumas clínicas espanholas já se encontram deliciadas com a criação deste novo mercado ali mesmo à sua porta)?
E, rematando a acusação que como libertário eu teria de ser a favor de todo e qualquer direito de escolha, o que fazer com os médicos que não desejarem, por objecção da sua consciência, efectuar abortos de fetos saudáveis em pacientes perfeitamente saudáveis? Serão suspensos, perseguidos, despedidos ou obrigados a efectuar este tipo de cirurgia que, acredito, alguns afirmam ser traumatizante? Os direitos de uns barram os direitos dos outros?
Por tudo isto e, pela minha vertente eco-libertária, defendo aquilo que é natural, e o mais natural parece-me que será as mães terem filhos… há que apostar na prevenção e na educação, no apoio à natalidade (que da última vez que ouvi algo acerca disto era muito baixa), não há que optar pelo mais fácil, há que prevenir em vez de remediar – se é que abortar é remédio seja para o que for.
Se podem dar por terminada a vida de filhos que não desejam, poderei eu dar por terminada a vida de deputados que não desejo? Assim eu talvez devotasse mais algum do meu tempo a esta questão acerca de eliminar o que não desejamos…
Por fim: não, não e não! Abortem este sistema e criem um mais justo, não abortem os adultos de amanhã!
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