Estória de Futuro (?)
A Maria vivia mal, talvez no mal. A pobreza extravasava na penitência diária de contar os trocos. Eram os transportes para o trabalho precário que lhe levavam mais moedas. Só depois se lembrava de matar a fome. A lista de prioridades era a que se podia arranjar.
Habitava um "bairro problemático". A avó, velha das rugas fundas que lhe delineavam o rosto, fazia da existência uma cama do 1º esquerdo, num quarto húmido e desprovido de algo mais que o essencial. Escapava a decana da casa considerar, já que à filha não o soube ensinar, que a Cruz pertencia ao rol das coisas imprescindíveis. Encimava o leito, dominando o espaço.
Do pouco que alegrava a Maria tudo se resumia aos encontros escondidos. Eram segredo de adolescência, fundido na pueril experiência do companheiro da aventura. Uma escapada nocturna que aproveitava o estado imóvel da avó. Juntavam os corpos no vão da escada - os vizinhos não tinham mais para onde ir - clamando à sorte não haver consequência de maior.
Passaram dois anos e tudo se mantinha. A excepção vinha da boca do médico: "está grávida". A Maria recordou todos os receios que a afligiam naquelas noites com o Zé mas não encontrava registo de temer esse fim. Ficava-se pela repreensão da avó, nunca teria chegado ao longe de colocar a hipótese que lhe acabavam de comunicar. Contou ao pai, depois à velha... falaram... discutiram... bofetearam... concluíram: "aborta que agora já se pode fazer isso".
Foi uma correria ao hospital. Chegaram, sentaram, aguardaram, disseram ao que vinham e viram que não eram os únicos. Caras desesperadas, a ver hipotecado o futuro ainda incerto, a lamentar o devaneio do momento irreflectido. Uma ou outra menos preocupada, quem sabe sem querer saber, fumava um cigarro que alguém lhe dava... estava sozinha. Chamaram a Maria. Entrou num gabinete, novamente um médico: "vão passar as dez semanas de gravidez até chegar a sua vez". A margem de erro era de uma semana. "Já vai ter ai um ser humano", rematou.
Voltaram a casa. Caiu-lhes o mundo em cima na impossibilidade de manter o filho. Pensaram, e novamente concluíram: "pede dinheiro ao estado, eles disseram naquela coisa do referendo que agora se podia fazer, não temos culpa do hospital não ter vaga a tempo".
Passaram dois meses. Chegamos a casa, ligamos a televisão e esbarramos com José Sócrates: "O caso da Maria é exemplar! Com a indemnização que lhe demos vai poder criar o seu filho. Para aqueles que diziam que o sistema nacional de saúde não daria uma resposta eficaz, pois têm agora a nossa efectiva resposta. Resolvemos este caso como resolveremos todos os outros semelhantes. Aliás, quero aqui deixar bem claro que é esta uma medida de incentivo a que não se pratique o aborto após as dez semanas. É crime! E como a Maria, muitas outras mulheres serão ajudadas a não o cometer. Estamos no rumo certo! Viva Portugal."
Passaram mais dois anos. A televisão anuncia: "A Assembleia da República aprovou hoje a realização de um referendo ao aborto. A pergunta terá como objectivo questionar se os portugueses concordam com a despenalização total do aborto"...
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Habitava um "bairro problemático". A avó, velha das rugas fundas que lhe delineavam o rosto, fazia da existência uma cama do 1º esquerdo, num quarto húmido e desprovido de algo mais que o essencial. Escapava a decana da casa considerar, já que à filha não o soube ensinar, que a Cruz pertencia ao rol das coisas imprescindíveis. Encimava o leito, dominando o espaço.
Do pouco que alegrava a Maria tudo se resumia aos encontros escondidos. Eram segredo de adolescência, fundido na pueril experiência do companheiro da aventura. Uma escapada nocturna que aproveitava o estado imóvel da avó. Juntavam os corpos no vão da escada - os vizinhos não tinham mais para onde ir - clamando à sorte não haver consequência de maior.
Passaram dois anos e tudo se mantinha. A excepção vinha da boca do médico: "está grávida". A Maria recordou todos os receios que a afligiam naquelas noites com o Zé mas não encontrava registo de temer esse fim. Ficava-se pela repreensão da avó, nunca teria chegado ao longe de colocar a hipótese que lhe acabavam de comunicar. Contou ao pai, depois à velha... falaram... discutiram... bofetearam... concluíram: "aborta que agora já se pode fazer isso".
Foi uma correria ao hospital. Chegaram, sentaram, aguardaram, disseram ao que vinham e viram que não eram os únicos. Caras desesperadas, a ver hipotecado o futuro ainda incerto, a lamentar o devaneio do momento irreflectido. Uma ou outra menos preocupada, quem sabe sem querer saber, fumava um cigarro que alguém lhe dava... estava sozinha. Chamaram a Maria. Entrou num gabinete, novamente um médico: "vão passar as dez semanas de gravidez até chegar a sua vez". A margem de erro era de uma semana. "Já vai ter ai um ser humano", rematou.
Voltaram a casa. Caiu-lhes o mundo em cima na impossibilidade de manter o filho. Pensaram, e novamente concluíram: "pede dinheiro ao estado, eles disseram naquela coisa do referendo que agora se podia fazer, não temos culpa do hospital não ter vaga a tempo".
Passaram dois meses. Chegamos a casa, ligamos a televisão e esbarramos com José Sócrates: "O caso da Maria é exemplar! Com a indemnização que lhe demos vai poder criar o seu filho. Para aqueles que diziam que o sistema nacional de saúde não daria uma resposta eficaz, pois têm agora a nossa efectiva resposta. Resolvemos este caso como resolveremos todos os outros semelhantes. Aliás, quero aqui deixar bem claro que é esta uma medida de incentivo a que não se pratique o aborto após as dez semanas. É crime! E como a Maria, muitas outras mulheres serão ajudadas a não o cometer. Estamos no rumo certo! Viva Portugal."
Passaram mais dois anos. A televisão anuncia: "A Assembleia da República aprovou hoje a realização de um referendo ao aborto. A pergunta terá como objectivo questionar se os portugueses concordam com a despenalização total do aborto"...
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16 Comentários:
Siiiiiiim? So what's the point? Esta triste história foi só uma oportunidade de nos "bofetear" com o seu proficiente domínio da língua portuguesa?
Um comentário típico de um burguês abortista.
Caro anónimo, a única bofetada que lhe dava é por ser abortista. Bem a merece.
Ok ok, percebi o princípio: conserve-se a nação mas despreze-se a língua...
Quanto aos epítetos que me atribui, desaponto-o a si por não ser abortista e desaponto-me a mim por não ser de todo burguês.
Quanto ao segundo comentador, bem... cada um esgrime os argumentos que consegue...
Quando não apresentam argumento para contrapor, a única solução é responder na mesma linha de acção.
Abortista
(Pejorativo) que defende a prática do aborto.
(Pejorativo) aquele que realiza abortos.
(Pejorativo) aquele que defende a prática do aborto
(WikDicionário)
E qual a linha de acção a tomar para quando se é insultado?
ó amigo Simão, e o que é você acha que o amigo merece? eu até tenho uma ou outra ideia mas não vamos por aí, pois não?
anónimo II
Pois é... acontece... quem escreve demasiado depressa comete erros ortográficos e utiliza termos de sem consultar o dicionário... ou então terá de me explicar em que é que eu não ter percebido o sentido da sua infeliz pseudo-parábola faz de mim defensora da práctica aborto ou agente da mesma
Ai tanto voluntarismo na defesa da nação tão mal orientado...
Os nacionalistas sao aqueles que devido a infurtunios varios nunca tiveram opurtunidade de conhecerem o resto do mundo, por isso observam a realidade como um cao preso numa trela.
Porque é que será, que os pró-abortistas ainda vivem?
Talvez, porque a mãe não fez nenhum aborto do agora pró...
Pensem nisso, antes de abrirem a boca...
Aos abortistas apenas tenho silencio.
Um dia perceberão porquê.
A pena de Morte em Portugal foi abolida há muito tempo, e mesmo assim a lei que existe legaliza-a.
"penas" são as de quem as tem de verdade, os doentes, os mais pobres, os mais velhos, os deficientes. São penas de Vida! e mesmo assim não desistem e continuam a ensinar-nos que Vale a pena Viver!
http://www.youtube.com/watch?v=VhlqdEdY8gk
SIM PODEMOS! SIM VALE A PENA VIVER!
"Caro anónimo, a única bofetada que lhe dava é por ser abortista. Bem a merece."
E so valentia... com o monitor a frente julga-se o maior.
Os guardioes da moral nao dormem, hoje e o aborto amanha sera o contraceptivo, depois a masturbacao...sempre com valentia (mas detras do monitor) combatem a "boa" luta.
Oh anónimo não me venha falar de valentia. Eu assino o que escrevo, toda a gente sabe quem sou! O meu nome saiu no jornal. Tenho a foto ai ao lado. O senhor é que se esconde no anonimato. Tenha vergonha.
Bom, talvez alguma vergonha, mas não é comparável à que sentiria se cometesse erros ortográficos como "bofetear" e andasse na blogosfera prometer "bofeteamentos" a desconhecidos.
Caro anónimo, dirija-se lá ao link lhe vou dar e tire as dúvidas quanto ao "bofetear", ok?
veja lá: http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx?pal=bofetear
e volte sempre para levar umas bofetadas
ahhh e já agora, para acabar mesmo com as dúvidas, veja este também:
http://www.priberam.pt/dlpo/conjugar_resultados.aspx
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