sexta-feira, junho 18, 2010

Portugal sem portugueses

"Senti-me verdadeiramente alarmado com a notícia de que serão encerradas, em Setembro, as primeiras 500 escolas (de um total de 2.500) com menos de 20 alunos. Estando Portugal a braços com a desertificação do interior e uma baixa natalidade, trata-se de uma medida que, na realidade, vai empurrar ainda mais para os grandes centros urbanos os poucos cidadãos nacionais ainda em idade ‘fértil’, uma vez que será o único garante de que os seus filhos terão direito a uma educação condigna. Pior, pode ser que os poucos casais em idade fértil que tenham, até agora, optado por permanecer no Portugal profundo optem pura e simplesmente por não ter filhos!
Não estando já contente com a quase inexistência de apoios à natalidade, o nosso governo, subsidiando o aborto e fechando escolas, creches e maternidades acaba por incentivar a sua população a não se reproduzir!
Mas não se trata somente de deixar desamparada a juventude, afastando-a das escolas, despromovendo a natalidade, às jovens que quiserem abortar o Estado paga – mas às que quiserem ter os filhos, o Estado abandona-as à sua sorte com as despesas de tal opção bem como aos casais em idade fértil que queiram permanecer no interior do país, não: encerrando de igual modo centros de saúde no interior – note-se o vergonhoso caso de Valença em que os locais, em desespero de causa, ondearam um milhar de bandeiras espanholas em protesto pelo encerramento do centro de saúde local, começando a frequentar as instalações médicas do outro lado da fronteira, em Espanha – acabam por obrigar também a população sénior a deslocar-se para os grandes centros populacionais, para as capitais de distrito, ou a morrerem sós e esquecidos nas aldeias do interior!
Em reacção a esta última medida, no seu blogue pessoal, o cientista político Adelino Maltez reagiu com a seguinte afirmação: “A fronteira com Espanha recuou para Setúbal”.
Se é certo que todos os países europeus se deparam com uma crise de natalidade, também é certo que os vários governos da União estão a criar incentivos à natalidade. Portugal aparenta ser um caso único no que diz respeito ao desejo, masoquista, dos seus governantes em deixar de existir…
Aqui, contudo, tenho que realçar um ponto, a meu ver muito relevante dum ponto de vista identitário: os Açores lideram na taxa de natalidade portuguesa! O mesmo sucede na Madeira!
Não sei se inspirado pelos aparentes bons resultados dos governos de Carlos César e de Alberto João Jardim – pelo menos nas políticas da natalidade e da segurança pública, se indignados pelo abandono a que “os cubanos de Lisboa” estão a relegar o interior do país, surgiu esta semana um curioso Partido do Norte, partido assumidamente regionalista – embora tal seja proibido pela Constituição da República Portuguesa. À sua frente encontra-se, surpreendentemente, Pedro Baptista… ex-deputado do PS!
Nos Açores renovou-se também, muito recentemente, o veterano Partido Democrático do Atlântico. O Partido Popular Monárquico, actualmente liderado a nível nacional por Paulo Estêvão, deputado do PPM na Assembleia Regional, tem vindo também a defender uma série de iniciativas nitidamente regionalistas.
Tudo isto denota que paira no ar um certo instinto de sobrevivência. Quanto mais ruinosa for a gestão do governo central, maior será a proliferação de novos movimentos, partidos e inclinações regionalistas, tanto à direita como à esquerda, quer autónomas quer em correntes internas dentro dos partidos já existentes.
E se é certo que a nível estatístico ou meramente de descontos para a Segurança Social e pagamento de impostos se pode compensar a ausência de portugueses, açorianos e madeirenses “de gema” por intermédio da importação de mão-de-obra imigrante devidamente legalizada, num nível mais realista estaríamos a abdicar da nossa identidade, uma vez que findo o Império são raros os imigrantes lusófonos entre nós que se consideram portugueses, embora me aqueça o coração sempre que encontro alguma regra a esta excepção."

Flávio Gonçalves (publicado no diário Incentivo, da cidade da Horta)

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