segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Interrupção violenta da gravidez

Por: A. Nunes da Silva

Aproxima-se mais uma vez uma nova discussão e um novo referendo sobre a despenalização do aborto. Os promotores do infanticídio avançam com a legalização do mesmo até às 10 semanas, como se a vida só começasse a ter valor a partir das 00 horas do 70º dia após a concepção. Um minuto antes não ainda não é um ser vivo…, apenas algo incómodo que ocupa o ventre da mulher. O coração bate desde as 3 semanas. Ter-se-á multiplicado o número de corações da mãe? Será o coração de um animal? Certamente que não! Como é possível então que tais «iluminados», sobrepondo-se à Ciência, conseguem estabelecer uma fronteira ontológica? Disporão de conhecimentos que o Mundo desconhece? Porque não compartilham então com os médicos e todos os cientistas as suas descobertas e as suas fontes, que não são Divinas pois Deus no seu 5º Mandamento proíbe-o terminantemente? Constituiriam, tais conhecimentos, a total compreensão dos insondáveis mistérios da vida e da morte...!
Desde a concepção até à morte existe apenas um ininterrupto desenvolvimento de um Ser, sem etapas estanques nem saltos evolutivos ou qualitativos. Um feto não tem sequer por que ter o aspecto de uma criança, como também uma criança não tem o aspecto de um adulto nem de um idoso. Desde a fecundação até à morte existe sempre e apenas o mesmo Ser, com o mesmo código genético, único e irrepetível. Este código é o código genético de um ser humano que não pode nunca pertencer a um vegetal nem a qualquer outro ser vivo que não um humano. O não-nascido é um ser humano com a mesma dignidade de uma criança, de um adulto ou de um idoso.
"Nunca se pode legitimar a morte de um inocente" (3).
Com uma tenacidade assassina, os cultores da morte, ao serviço de obscuros interesses (sei quais são, mas não cabem no contexto do assunto versado), querem institucionalizar o pior dos genocídios, o mais cobarde e traiçoeiro de todos os crimes: o assassínio em massa do maior número possível (assim a desinformação o consiga e as mães o consintam…) de seres com idade inferior ao 70º dia de vida intra-uterina. Se isso eventualmente acontecesse, representaria tal acontecimento uma brecha moral na consciência nacional e um perigoso precedente. Se nas Maternidades e Hospitais do Estado passasse a ser possível matar seres humanos em tempo útil, então como seria possível condenar todo aquele que roubasse ou praticasse um homicídio na pessoa de um seu semelhante se alegasse em sua defesa a "liberdade de consciência" de o ter feito crendo que não estava a fazer nada de mal? Como evitar que, na sequência das propostas legislativas no sentido errado da lei natural, se matem crianças?, já que há gente a mais - tanto desempregado e com a situação a agravar-se - e tendo que o fazer, segundo a mesma lógica, começar-se-á pelos mais pequenos pois para além de serem totalmente dependentes não falam nem andam como nós, adultos.
Sujeitar uma decisão que diz respeito à natureza e ao direito mais íntimo e inalienável do Homem, que é o direito à Vida, ao arbítrio despótico de uma maioria circunstancial de «analfabetos» da ética e da moral, é o exemplo mais demonstrativo da iniquidade da Democracia, como símbolo da "Cultura da Morte" e sinónimo de Plutocracia, cujos valores são o dinheiro, ainda o dinheiro, e sempre o dinheiro.
"…a Revolução Francesa, instaurada a Democracia, instaurou o regime do Dinheiro. Hoje é o Dinheiro que governa ¾ mas não só no Estado: principalmente, talvez, na vida social. A Democracia substituiu a moral antiga, cristã espiritual, pela moral material do Dinheiro". (1)
Segundo o Dr. Nathanson (abortista arrependido, com milhares de abortos realizados) "Fica mais barato destruir crianças à peça que ajudar a mulher e a família." É tudo uma questão de preço e de dinheiro…
Qual o preço e com que dinheiro foram compradas as consciências e as opiniões dos deputados pró-aborto?
"A Democracia é, pois, o governo do Dinheiro. Quem tem dinheiro compra. Há milhares de maneiras de comprar. E como a Democracia é o regime das opiniões, há que comprar as opiniões" (2).
O sistema não concede ao Homem senão um valor de um bem de consumo (prostituição, homossexualidade, etc) ou de retorno económico, como a mais-valia do seu trabalho (melhor ainda se for um contratado a prazo ou vítima da precariedade do emprego, agravada pela constante chegada de emigrantes estrangeiros, que faz aumentar a oferta de mão-de-obra e consequentemente baixar o seu custo, aumentando os já fabulosos lucros das empresas e capitais apátridas). Quem não serve, não vale, e quem não vale (economicamente falando…) pode-se, porque não, matá-los.
O materialismo egoísta, o consumismo desenfreado, o enriquecimento a qualquer preço, o estatuto social baseado no extracto da conta bancária, a especulação e o poder dos financeiros, são as consequências da Razão pelo número. É valor do 1 na equação n+1. Apesar deste eufemismo democrata as coisas não são verdadeiras ou falsas, belas ou feias, boas ou más, porque assim o possa decidir uma maioria num momento concreto.
Como se pode verificar pelo exemplo italiano, a despenalização do aborto irá provocar um aumento em flecha do seu número pois a sociedade vai interpretá-la como se o aborto fosse um acto perfeitamente normal, i.e., dentro dos limites da moral e da ética (democráticas). Em Itália a consequência de tal lei foi a multiplicação por 8 no número de abortos praticados antes da implementação da mesma.
Não deixando lugar a dúvidas a Real Academia Espanola de Medicina diz: "Prescindindo de toda a razão moral, abordado apenas do ponto de vista da Biologia, o óvulo fecundado é uma vida independente, …pelo que qualquer práctica abortiva, por mais precoce que seja, deve ser considerada como um homicídio".
Segundo o Dr. Lejeune, Professor de Genética da Universidade de Paris, "Aceitar o facto de que a seguir à fertilização, um novo ser começou a existir não é uma questão de opinião. É uma evidência experimental".
Quando se fala do aborto pretende-se sempre colocá-lo no terreno da abstracção, evitando-se falar naquilo que se pretende eliminar. Talvez a descrição dos métodos e do testemunho que se lhes segue exemplifique o que realmente se mata num aborto.
Métodos abortivos:
n sucção. Com um potente aspirador vai-se desfazendo em pedaços os frágeis membros da criança. O corpo é «remontado» em cima da mesa, qual um puzzle, de forma a que o abortista possa verificar a eficiência do seu «trabalho», i.e., se não ficaram restos que possam originar infecções.
n raspagem. Com uma legra (objecto cortante) vai-se esquartejando e retirando pedaço a pedaço o corpo da criança.
n indução de contracções, pílulas abortivas, injecção intra-amniótica e corte do cordão umbilical.
Observando estes procedimentos numa ecografia vê-se a criança esperneando e esbracejando no estertor da morte.
Se se pudessem ouvir os gritos de dor e de incompreensão da criança, pelo assassínio de que é vítima, no seio do lugar mais seguro e sagrado do Mundo, o ventre de sua mãe, todos nós estremeceríamos de horror com semelhante manifestação de sofrimento do mais inocente dos inocentes. Isto faz-me lembrar como quase todos encaramos o «espectáculo» de milhares de peixes a saltar nas redes - estrebuchando por asfixia numa morte lenta - simplesmente porque não ouvimos os seus gritos de sofrimento. O silêncio na morte do feto faz-nos tragicamente assemelhá-la à dum simples peixe.
Há uns anos atrás circulou na net a carta de uma sobrevivente de um aborto, felizmente fracassado. Não queria terminar sem transcrever um pequeno excerpto da dita carta.
(...) “Sinto-me contente por estar viva. Estive quase a morrer. Todos os dias dou graças a Deus pela vida. Não me considero um subproduto da fecundação, um amontoado de células, nem nada do que se chama às crianças antes de nascer. Não acredito que uma pessoa concebida seja alguma dessas coisas."
Conheci outros sobreviventes de abortos e todos se sentem agradecidos à vida (e pela vida).
Hoje em dia, uma criança só é criança, se isso for conveniente. Outra coisa acontece se o momento não for adequado. Uma criança continua a ser uma criança, mesmo quando a mãe sofre um acidente aos dois, três ou quatro meses de gravidez. Se é abortado chamam-lhe um monte de células. Que é isso? Não vejo qualquer diferença, vocês vêm?
Muitos fecham os olhos… O melhor que tenho para lhes ensinar a defender a vida, é a minha própria vida. Foi uma grande dádiva. O assassinato não é solução para uma dúvida ou para uma situação. Demonstrem-me que o pode ser!
'O que é mau no terreno da moral, é-o também no da política'. Todas as vidas são valiosas, são uma dádiva de Deus. Devemos receber com alegria e agradecimento uma tal dádiva."(...)
Nem a criança é um agressor nem o facto de viver é uma acção injusta.


Notas
(1) - Alfredo Pimenta, "A Plutocracia", in "A Época", 2/09/1926
(2) - Alfredo Pimenta, "A Falência da Democracia", in "a Época", 31/08/1926
(3) - Papa João Paulo II
(*) - A injecção de solução salina no líquido amniótico antes de provocar a morte da criança por envenenamento, fá-la sofrer queimaduras da pele até chegar a situações de mudar completamente de cor.