quarta-feira, janeiro 03, 2007

As nossas crianças


“Em Karkhla, no Paquistão, crianças com idades de 4 e 5 anos trabalham em fábricas de tijolos. O seu desgastante trabalho consiste em virarem milhares de tijolos, para que sequem mais rapidamente ao sol.”
“Em Cabul, no Afeganistão, as crianças disputam migalhas de carvão dos sacos transportados por camiões da Cruz Vermelha, de modo a garantir o seu próprio sustento.”
“Em Tegucigalpa, Honduras, abutres e crianças disputam as sobras que encontram no aterro sanitário da capital hondurenha.”
“Em Sliguri, na Índia, pequenas mãos de crianças, calejadas em troca de um salário irrisório, quebram pedras na periferia da cidade.”
Segundo a OIT, mais de 220 milhões de crianças trabalham, a maioria em funções perigosas. Segundo a UNICEF, milhões de crianças são vítimas de exploração sexual. Segundo a OMS, existem mais de 100 milhões de crianças a viver nas ruas do mundo subdesenvolvido. Segundo a UNICEF, 55% das mortes de crianças estão associadas à desnutrição, à fome que debilita lentamente.
É verdade. O nosso mundo trata muito mal as suas crianças.
Entramos no mês de Dezembro. Certamente o mês das crianças. O mês do nascimento e da Vida. Mas também o tempo da fartura ou do seu excesso.
É verdade. O tempo certo para pensarmos nas crianças do mundo.
O flagelo das mãos calejadas acontece muitas vezes com a complacência da família e da sociedade.
Há crianças no mundo abandonadas à sua sorte. Sem alguém capaz de ouvir o profundo apelo “mamã defende-me”.
É verdade. O tempo certo para pensarmos nas crianças do nosso pequeno mundo. Ou naquelas que, abandonadas a si próprias, não tiveram sequer a sorte de serem crianças.

Paulo Gusmão, deputado independente na Assembleia Regional dos Açores