A ideologia abortista
A quem observe com atenção, para além das cortinas de fumo e das proclamações retóricas, não é possível deixar de concluir que a questão do aborto traduz um programa ideológico.
As verdadeiras convicções dos defensores de tal programa tornam-se evidentes nas pequenas frases que escapam, mais do que nos discursos preparados.
Lembro-me como me chocou ver um dia na televisão uma senhora, com certa notoriedade como escritora, explicar que a mulher só poderia dizer-se realmente livre quando o acto de abortar fosse encarado com tanta naturalidade como tratar uma borbulha. E também do episódio, passado na minha presença, em que um conhecido escultor no calor de um debate tentou ironizar com o tema da "defesa da vida" observando divertido "mas o que é a vida? Tudo são formas de vida... uma alface, por exemplo, e todos comemos salada". Ao escultor que via no problema a mesma relevância de comer hortaliças e à escritora que lhe dava a mesma importância que às suas borbulhas pode acrescentar-se a senhora da "Women on Waves" que na excitação da conversa ao telefone com a interlocutora polaca que lhe pedia explicações respondia interrogando o que é que o aborto tinha assim de tão especial, era como cortar as unhas...
Nestes desabafos está a verdade da polémica. Não adianta esse jogo de enganos de estar a discutir se o limite será às dez semanas ou às quinze semanas. Para os militantes de tal programa o acto em si não contém qualquer desvalor, deve ser apenas uma expressão da vontade. A sua legitimidade às 8 semanas é igual à que será às 12 ou às 20. Na realidade, nenhum aborto deve ser considerado ilegítimo, ou ilícito, ou censurável - ninguém tem nada com isso desde que resulte da vontade da mulher portadora do feto.
Neste quadro, evidentemente que é ilusório pensar, como é tentação dos viciados mentalmente no jogo da política, que é possível encontrar uma "solução negociada" e acabar com polémica tão incómoda. Se a lei disser que é lícito até às 10 semanas as organizações abortistas reclamarão que diga 12 semanas. Se passar a dizer 12 semanas os mesmos cartazes e panfletos dirão que deve ser livre até às 15 semanas. E se o legislador conceder, a luta passará a ter como referência as 20 semanas. Em nenhum país do mundo, seja qual for o sentido e o estado actual da sua legislação, a reivindicação parou. Na realidade o que se trata é que no sentir dos combatentes desse programa ideológico nenhum limite pode ser colocado a esse acto, tão irrelevante do ponto de vista ético como cortar as unhas, tratar uma borbulha ou comer uma folha de alface.
As verdadeiras convicções dos defensores de tal programa tornam-se evidentes nas pequenas frases que escapam, mais do que nos discursos preparados.
Lembro-me como me chocou ver um dia na televisão uma senhora, com certa notoriedade como escritora, explicar que a mulher só poderia dizer-se realmente livre quando o acto de abortar fosse encarado com tanta naturalidade como tratar uma borbulha. E também do episódio, passado na minha presença, em que um conhecido escultor no calor de um debate tentou ironizar com o tema da "defesa da vida" observando divertido "mas o que é a vida? Tudo são formas de vida... uma alface, por exemplo, e todos comemos salada". Ao escultor que via no problema a mesma relevância de comer hortaliças e à escritora que lhe dava a mesma importância que às suas borbulhas pode acrescentar-se a senhora da "Women on Waves" que na excitação da conversa ao telefone com a interlocutora polaca que lhe pedia explicações respondia interrogando o que é que o aborto tinha assim de tão especial, era como cortar as unhas...
Nestes desabafos está a verdade da polémica. Não adianta esse jogo de enganos de estar a discutir se o limite será às dez semanas ou às quinze semanas. Para os militantes de tal programa o acto em si não contém qualquer desvalor, deve ser apenas uma expressão da vontade. A sua legitimidade às 8 semanas é igual à que será às 12 ou às 20. Na realidade, nenhum aborto deve ser considerado ilegítimo, ou ilícito, ou censurável - ninguém tem nada com isso desde que resulte da vontade da mulher portadora do feto.
Neste quadro, evidentemente que é ilusório pensar, como é tentação dos viciados mentalmente no jogo da política, que é possível encontrar uma "solução negociada" e acabar com polémica tão incómoda. Se a lei disser que é lícito até às 10 semanas as organizações abortistas reclamarão que diga 12 semanas. Se passar a dizer 12 semanas os mesmos cartazes e panfletos dirão que deve ser livre até às 15 semanas. E se o legislador conceder, a luta passará a ter como referência as 20 semanas. Em nenhum país do mundo, seja qual for o sentido e o estado actual da sua legislação, a reivindicação parou. Na realidade o que se trata é que no sentir dos combatentes desse programa ideológico nenhum limite pode ser colocado a esse acto, tão irrelevante do ponto de vista ético como cortar as unhas, tratar uma borbulha ou comer uma folha de alface.
1 Comentários:
«Se a lei disser que é lícito até às 10 semanas as organizações abortistas reclamarão que diga 12 semanas. (...) Em nenhum país do mundo, seja qual for o sentido e o estado actual da sua legislação, a reivindicação parou.»
Escrevi exactamente isso num dos posts lá mais para cima.
«Na realidade o que se trata é que no sentir dos combatentes desse programa ideológico nenhum limite pode ser colocado a esse acto, tão irrelevante do ponto de vista ético como cortar as unhas, tratar uma borbulha ou comer uma folha de alface.»
Exactamente. Lembro-me de um político americano (tipo com responsabilidade, no Senado ou coisa do genero) dizer que "it ain't a baby until you take it home" (cito de memória).
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